AS HORTAS DO MONTE ALMEIDA E O PARQUE EDUARDO VII
Nos dois últimos terços do século XIX, a Câmara Municipal de Lisboa alimentou um desejo de melhoramentos da cidade. O ambicioso projeto prolongou-se ao longo da centúria e, a partir de 1874, foi conduzido pelo engenheiro Ressano Garcia.
Entre 1877 e 1903, Ressano Garcia foi responsável pelo projeto de ligação entre o Passeio Público (do Rossio) e o Campo Grande, cuja concretização determinou a extinção das hortas do Casal do Monte Almeida, expropriado para a construção do Parque da Liberdade (atual Parque Eduardo VII), que remataria o eixo viário da Avenida da Liberdade.
A horta mais a sul correspondia à horta da Quinta da Torrinha, conhecida maioritariamente através das fotografias de Joshua Benoliel (imagem 2) ou da litografia da Feira Franca, desenhada em 1889 por Roque Gameiro (imagem 3).
O mapeamento das hortas na Planta de Júlio Vieira da Silva Pinto
Entre 1904 e 1911, Júlio Vieira da Silva Pinto, funcionário da
Câmara Municipal de Lisboa, venceu o concurso público destinado à realização de um levantamento cartográfico de toda a área do município.
Este trabalho visava dotar a Câmara Municipal de um documento que
traduzisse a extensão total da cidade (aumentada com a assimilação dos antigos
municípios de Belém e dos Olivais) e equiparar-se ao detalhado levantamento
feito por Filipe Folque, em meados do século XIX e, naturalmente, desatualizado.
Foram aprovadas condições excecionais para a esta obra, iniciada
provavelmente no ano de 1905, como a obrigatoriedade de acesso a espaços
interiores e privados.
Apesar de não se conhecer a legenda original da planta, as
arquitetas Teresa Marat-Mendes e Patrícia Bento d'Almeida (consultoras científicas da
exposição) desenvolveram um trabalho de investigação que constata que os
edifícios públicos foram coloridos a negro e os civis pintados a cinzento, e
que permite considerar que as áreas preenchidas a azul claro são vinha e as
parcelas contornadas a amarelo são hortas.
As duas folhas originais do levantamento expostas na exposição
permitem reconhecer as hortas dos logradouros da zona do Rato e as hortas
prisionais da Penitenciária de Lisboa, no topo do Parque Eduardo VII.
COMPOSTAR, COMPOSTAR
O
sistema de compostagem do Museu de Lisboa-Palácio Pimenta permite uma gestão
mais eficiente e sustentável dos resíduos orgânicos produzidos neste local.
No compostor depositam-se os resíduos do jardim, da mata e do relvado. Por ação de microrganismos, as folhas, os ramos e a relva, são transformados em composto que pode ser utilizado para melhorar a composição do solo.
No vermicompostor colocam-se resíduos
alimentares, como restos de frutas e vegetais, que minhocas e microrganismos
convertem num adubo natural rico em nutrientes e muito benéfico para as plantas
- o húmus de minhoca. Outro produto deste processo é o chorume de minhoca, um
líquido que, diluído, pode ser usado como biofertilizante.
Reduzindo a exportação de resíduos e a
dependência de fontes externas de adubos, o Museu de Lisboa diminui a sua
pegada ecológica.
O compostor do Palácio Pimenta foi desenvolvido pela startup 2Adapt - Serviços de Adaptação Climática e pelo atelier de arquitetura PARTO e integra-se numa estratégia de sustentabilidade que tem vindo a ser implementada pelo Museu de Lisboa.
ROTA DA CARAVANA AGROECOLÓGICA
O COMÉRCIO DE ERVAS MEDICINAS EM LISBOA
Pharmacopeia Geral Para o Reino, E Domínios de Portugal. Publicado por ordem da Rainha Fidelíssima D. Maria I, Tomo I Elementos de Pharmacia
1824
Museu da Farmácia - 000091
AS HORTAS NO CHÃO DO MERCADO DO FORNO DO TIJOLO
As hortas no chão do Mercado do Forno do TijoloAlberto Carlos Limas/dArquivo Municipal de LisboaLIM000962
O local onde hoje se encontra o Mercado do Forno do Tijolo (entre a Rua Maria da Fonte e a Rua Damasceno Monteiro) já foi chão de hortas cultivadas em redor da estrutura de água composta por um poço, um aqueduto e um tanque.
Quem, em meados do século subisse pela parte baixa da Calçada do
Forno do Tijolo (que corresponde hoje à Rua Maria da Fonte), ultrapassa um
edifício setecentista, com seu portal singelo de feição nobre e o seu pequeno
jardim (letra A), observando à direita o edifício que viria a pertencer a
Henrique José Oliveira Sommer, sem se aperceber de imediato da existência
destas hortas. Seria preciso contornar o cotovelo da extensa calçada para, do
troço mais elevado, apreciar os campos hortícolas e o engenho de transporte da
água (a ligar as letras E e F).
As hortas desenhadas por Filipe Folque, entre 1856 e 1858 (foto 2) permaneceram até ao levantamento de Silva Pinto, realizado entre 1904 e 1911 (foto 3).
Neste levantamento, que foi o último registo cartográfico destas hortas, que se viriam a extinguir com a construção do Mercado do Forno do Tijolo, registou-se uma grande estufa no jardim do edificio que fora de Henrique José Sommer (letra G) e que permaneceu na mesma família ao longo da primeira metade do século XX. Mantiveram-se neste sítio a extensa horta e o aqueduto que ligava o tanque (letra E) e o poço (letra F). A propriedade não era, contudo, parte do prédio da família Sommer; tratava-se de um terreno interior, com entrada pelo mesmo local onde viria a ser a entrada do Mercado. No topo nordeste do terreno existia uma relativamente pequena habitação e o chão das hortas foi delimitado com contorno a amarelo.
Vejamos, então, a fotografia de Alberto Carlos Lima com legenda:
Os arrabaldes do Areeiro
Nos anos 60, a linha urbana que partia da Praça de Londres,
rasgando terrenos de antigas quintas e ramificando-se em núcleos habitacionais
de prédios robustos como os da Avenida de Roma ou do Areeiro, permitia
adivinhar uma relação de contrastes entre a urbanidade da cidade moderna e o
passado rural sobrevivente.
Em 1963, os referentes desta paisagem foram cenário (e, de certo
modo, tema) de um filme português, Os Verdes Anos, realizado por Paulo
Rocha, explorando esta dicotomia e reforçando o conflito interior de Júlio, um
rapaz que veio do campo para a cidade e se enamora de uma empregada doméstica
de um andar do prédio do cruzamento da Avenida de Roma com a Avenida Almirante
Reis.
Os Verdes Anos, Júlio e Ilda
caminhando sobre os elevados terrenos dos limites das antigas quintas do Polão
e dos Poiais Vermelhos (parte do atual Parque da Bela Vista).
Numa cena do filme, Júlio e Ilda caminham ao longo de um trilho,
na orla das quintas do Polão e dos Poiais Vermelhos (que constituem parte do
atual Parque da Bela Vista, sobre a Avenida Almirante Gago Coutinho). Nesse
chão de quintas ancestrais, o olhar sobrevoa as traseiras das
avenida e espraia-se pelas torres da Praça do Areeiro, longe de adivinhar que,
a 12 de janeiro de 1824, o proprietário da Quinta dos Poiais Vermelhos mandara
anunciar a sua venda na Gazeta de Lisboa, descrevendo-a com as
"três grandes hortas com os seus poços de nora, e tanques, olivais em
terras de semeadura, e vinha que dá para cima de 40 pipas (...), parreiras, e
árvores de fruta (...)", incluindo as casas nobres, capela e
dependências de apoio, livres de foro.
UMA OFICINA DE GUARDIÕES
No próximo dia 10 de outubro realiza-se no Palácio Pimenta uma oficina prática de guardiões, orientada por Graça Ribeiro, da Associação Colher para Semear - Rede de Variedades Tradicionais.
Nesta oficina serão demonstradas algumas técnicas para a preservação de sementes, os métodos húmido e seco e a fermentação, assim como a polinização e as condicionantes botânicas, em diferentes espécies hortícolas.
A oficina tem a duração de 90 minutos e destina-se a participantes com mais de 16 anos.
Reservas podem ser feitas para: reservas@museudelisboa.pt
UMA HORTA VERTICAL NO PALÁCIO PIMENTA
-
A QUINTA DO JACINTO Hortas das casas económicas da Rua N.º 5 do Bairro da Quinta do Jacinto, Alcântara Roiz, Lda. Década de 1940 Arquivo Mun...
-
AS HORTAS DE FRANCISCO ISIDORO VIANA Francisco Isidoro Viana, o fundador da Casa Bancária Fonsecas, Santos e Viana (que, mais tar...