AGROFLORESTA DE CAMPOLIDE




Descendo a Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, em direção a Cascais, as árvores e os arbustos ornamentais do Jardim Panorâmico da Bela Flor, situados à mesma cota da via rápida, são parcela de adição no caráter invisível do Bairro com o mesmo nome. A velocidade de circulação, que a descida incentiva, contribui para manter o olhar, de condutores e passageiros, arredado da margem direita da paisagem. Mas, na verdade, são os acentuados desníveis de terreno que criaram o enclave onde o bairro se oculta.

Silva Pinto, nos começos de 1900, marcaria, nas plantas 7H, 7I e 8I do seu Levantamento, os declives que rodeavam a quinta de António Fernandes dos Reis, mais conhecida, e assim denominada na Planta Topográfica, como Quinta do Fernandinho

Nos terrenos da extinta quinta, o Bairro da Cooperativa de Habitação Económica da Bela Flor faz agora vizinhança com o Parque Urbano da Bela Flor. Aqui nasceram as Hortas Comunitárias da Quinta da Bela Flor, que são geridas pela Junta de Freguesia de Campolide. A poucos metros, situa-se a Agrofloresta de Campolide que, rodeada de rododendros, se encosta ao barranco norte da Avenida. Ali, árvores florestais, árvores de fruto, hortícolas e ervas de cheiro vão crescendo ao ritmo que os trabalhos comunitários conseguem impor num retângulo de terreno contíguo a uma fileira de prédios de habitação social.

A Agrofloresta de Campolide é um projeto de transição que pode conhecer na Exposição através dos testemunhos de Joaquim (na imagem), de Felipe e de Cátia, os rostos desta iniciativa, que nos ensinam que é possível transformar terrenos abandonados em florestas de comida. 


 A HORTA DO QUARTEL DE INFANTARIA 16 EM CAMPO DE OURIQUE

Após a extinção do Regimento de Infantaria nº 4, em 1831, instalou-se no quartel de Campo de Ourique o Regimento de Infantaria nº 16, que aí haveria de se manter até à primeira década do século XX, tendo sido transferido posteriormente para Évora. A história da ocupação do quartel por vários regimentos constitui um importante olhar sobre a sua evolução e a história militar portuguesa.

O interesse em dotar os quartéis de hortas não foi um ato isolado do aquartelamento de Campo de Ourique, representando, antes, uma preocupação do Exército a nível nacional. Frequentemente se justificou a necessidade de aquisição ou arrendamento de um terreno para instalação de uma horta com o complemento do rancho dos soldados.  

A documentação do Arquivo Histórico Militar, como a planta de um terreno proposto para a instalação da horta, em 1830, no quartel de Campo de Ourique, e que se apresenta na exposição, permite evocar um processo demorado, por vezes difícil e esporadicamente colorido com algum pitoresco.


Planta do terreno de Campo de Ourique, 1830, autor desconhecido, Arquivo Histórico Militar

A horta do Quartel de Campo de Ourique veio a localizar-se na esquina da Rua do Campo da Parada com a rua direita de Campo de Ourique (respetivamente, as atuais Rua Ferreira Borges e Rua de Campo de Ourique), tendo sido cartografada no levantamento de Filipe Folque (1856-58). A rega deste espaço de cultivo hortícola foi assegurada com água tomada diretamente de um troço do ramal do Aqueduto das Águas Livres e reservada num tanque.

Em 1880, foi atribuído o topónimo Rua do Quatro de Infantaria ao arruamento que delimitou o quarteirão do bairro de Campo de Ourique, em parte situado nos terrenos da horta militar, determinando a sua extinção.

 

 A HORTA DO PALÁCIO PIMENTA

Em 1914,  o engenheiro Jorge d'Ávila Graça e Honorina de Morais Graça adquiriram uma parcela da antiga quinta do Pimenta, constituída por um palácio setecentista (atual núcleo sede do Museu de Lisboa), com o seu jardim formal, pomar, terra de cultivo e um quintalão. Cerca de seis anos antes, Júlio António Vieira da Silva Pinto tinha cartografado a propriedade e demarcara a existência de hortas num espaço murado a norte do palácio - o quintalão - e na parcela que se prolongava, fora desse espaço murado, para oeste. A identificação feita por Silva Pinto manteve-se até ao momento da escritura, como se pode ler na planta que acompanhou esse ato notarial: a letra E correspondendo ao espaço de um pomar (no lado esquerdo) e horta (no lado direito).

 

Quinta das Palmeiras […], 1914. Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Durante o período de obras que precedeu a instalação da família, o pomar deu lugar a um pequeno bosque ou mata e a horta/terra de semeadura integrou um campo de ténis. O quintalão manteve a sua vocação de espaço de cultivo hortícola, a par de outras atividades de apoio ao funcionamento da casa, como a lavagem das roupas, ou da quinta.

Em 1952, o fotógrafo Mário Novais registou algumas imagens do edifício e dos jardins e,  numa fotografia da fachada norte, é possível identificar milho e couves greladas. A prática hortícola ter-se-á prolongado até à venda do palácio à Câmara Municipal, em 1962. Durante a primeira fase de obras de adaptação do palácio a Museu da Cidade, ainda grelavam couves nesta morada.

Palácio Pimenta, Mário Novais, [1952], Museu de Lisboa.