CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO


O catálogo da exposição "Hortas de Lisboa. Da Idade Média ao século XXI" pode ser adquirido no Museu de Lisboa - Palácio Pimenta já a partir de amanhã, dia 31 de julho.



DE GÉNOVA A LISBOA
A HORTA DE SÍLVIA


Nasci em Génova, vivi em Londres onde aprendi o que era bio, o que era comer bio, e estou em Lisboa há 30 anosAdoro plantas. Como é evidente. Uma pessoa não se inventa de um dia para o outro. Sempre tive varandas grandes e, portanto, com possibilidade não só de ter flores, mas também plantas aromáticas e hortícolas, pequenas.

Ter uma horta é terapia pura. Como bio, ensino a comer bio, ensino a comer mais vegetais que outras coisas e, de facto, poder aceder a coisas que vêm do meu cultivo é o ideal. Cultivo tudo aquilo que me dá na gana, quanto mais estranho melhor e trago muitas sementes de Itália porque acho que é interessante ver como reagem e o que é que muda aqui. 

Tenho couves, aipo, acelgas, alho francês, cebola, coentros, borragem, rabanetes, salsa, alho, favas, ervilhas e depois há muitas flores, gerânios, que eu gosto de flores e as flores são precisas para chamar abelhas. Aquela lavanda, que é um chamariz incrível, quando está florida é borboletas por tudo o que é lado. Esse manto verde é semente de sésamo preto, nigella, que eu gosto imenso, isto é cidreira, é mesmo maravilhosa, é o que os ingleses chamam lemon balm e falam disso como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo, e é, mas dizem isso porque têm pouco, têm menos do que nós. Isto é calêndula.  É fantástico, maravilhoso. Eu uso imenso ervas aromáticas, uso muito mais do que tenho aqui, porque algumas dão-se até certo ponto. Por exemplo, o manjerico que é a erva da minha terra, não se dá tão bem como isso. À minha vizinha tem-se dado bem, mas eu usei o manjerico genovês e cá não tem hipótese nenhuma.

Para cultivar consulto um almanaque italiano que se chama Barbanera e que se publica há mais de 200 anos. É mesmo uma pequena enciclopédia com todos os meses do ano, com tudo aquilo que se pode fazer, segundo as exposições solares, a lua, essas coisas todas. E também pergunto aos meus amigos produtores que vendem no Príncipe Real.

Sou uma pessoa muito organizada mas, na horta, estou mesmo despenteada porque é o que me dá prazer. É um espaço de liberdade. Semeio conforme aquele pedacinho me inspira e deixo muita terra em pousio porque acho que isso é importante. Tenho-me apercebido que a horta é mesmo algo onde eu ponho o que está cá dentro mais solto. Porque eu era incapaz de ter uma casa assim, incapaz. A minha casa é absolutamente limpa e ordenada. Cá, não. E cada vez que venho cá e olho para isto, penso: Isto é o que eu gosto aqui!.  Percebo  quanto é diferente de outra postura que eu tenho noutro lado. 





 VISITA ORIENTADA PELOS COMISSÁRIOS

Bilhetes em: https://blueticket.meo.pt/Event/5219/HORTAS-LISBOA---VISITA-ORIENTADA-PELOS-COMISS%C3%81RIOS

 

A HORTA DO QUARTEL DOS MARINHEIROS


Instalado nas antigas ruínas de um quartel de Cavalaria, o novo quartel de marinheiros em Alcântara foi inaugurado oficialmente em 1863.  

O edifício anterior era pouco mais que casas impróprias, acanhadas e insalubres com cavalariças baixas, pouco ventiladas e húmidas reconvertidas apressadamente em tarimbas para acolher os praças de Marinha. A construção do novo quartel, projetado por José da Costa Sequeira, concretizou-se com a ajuda de voluntários e com o esforço dos próprios marinheiros.

A partir do levantamento cartográfico de Filipe Folque, podemos reconhecer os talhões de uma horta abaixo da fachada posterior do quartel e ao lado do Forte da Alfarrobeira, desenhadas em janeiro de 1857 (no canto superior direito da imagem 1) . O quartel e a horta confinavam com o extinto convento do Sacramento e a sua cerca e, na zona ribeirinha, com o cais do Baluarte e a Doca de Alcântara.

 

(imagem 1)

Atlas da carta topográfica de Lisboa, nº56, Filipe Folque, janeiro de 1857. Arquivo Municipal de Lisboa.

 

Em 1881,  o levantamento de Francisco Goullard, apresenta o mesmo local, cortado pela rua 24 de Julho ( que só viria a ser uma avenida a partir do edital camarário de 1928). Uma ténue inscrição a lápis identificou a localização da Parada do quartel e, à sua direita, a "horta quartel dos marinheiros" ( imagens 2 e 3). Esta horta, contudo, finou-se algures no tempo, em data anterior a fevereiro de 1910, quando a topografia do local se fixou numa prancha do novo levantamento orientado por Júlio Vieira da Silva Pinto. 

 

(Imagem 2)

Levantamento topográfico de Francisco Goullard, nº 384, 1881. Arquivo Municipal de Lisboa.

 


(Imagem 3)

Pormenor do Levantamento topográfico de Francisco Goullard, nº 384, 1881. Arquivo Municipal de Lisboa.

 CONVERSA "HORTAS INFORMAIS DE LISBOA" COM ÂNGELA FERREIRA, DAVID SANTOS E PEDRO VARELA


Hortas na Auto-Estrada (Reforma Agrária), Ângela Ferreira, 2006, Prova fotográfica colada em alumínio, Museu de Lisboa.

A série de fotografias de Ângela Ferreira "Hortas na Autoestrada - Reforma Agrária", apresentada na exposição "Hortas de Lisboa. Da Idade Média ao século XXI", é o mote para uma conversa em torno das hortas informais com a artista e com os investigadores David Santos e Pedro Varela. 
Os processos de apropriação, de reconstrução identitária, mas também as estratégias de entreajuda, conduzem-nos neste olhar demorado sobre a paisagem hortícola de uma Lisboa pós-colonial e as comunidades de migrantes oriundos de países africanos de expressão portuguesa.

7 JULHO, 18H
Museu de Lisboa - Palácio Pimenta

Participação gratuita mediante inscrição prévia: reservas@museudelisboa.pt
Mais em https://bit.ly/3jlqkVI