A QUINTA DO JACINTO
O Bairro da Quinta do Jacinto em
Alcântara deve o seu nome a Jacintho Gonçalves que, ainda no século XIX,
instalou nesse local periférico as cocheiras da sua empresa de transporte de
mercadorias e passageiros.
Na década de 1940, o bairro constituiu uma
das primeiras realizações da Câmara Municipal de Lisboa para alojar populações
carenciadas, que não reuniam condições materiais para aceder às Casas
Económicas ou de Renda Económica.
Este projeto das “Casas para as Classes
Pobres”, do arquiteto António Couto Martins (que viria a ser
chefe de terceira repartição de Arquitetura da Câmara Municipal de Lisboa na
década de 1960), teve várias fases. A primeira, iniciada em 1945, correspondeu
à construção de moradias familiares, nas ruas nº3 e nº5 do bairro municipal, adiando-se a construção de
prédios de habitação coletiva, tidos como contrários "à
"tradição" do País e ao "feitio" dos Portugueses" para as fases seguintes, em que construir-se-iam
prédios de habitação de quatro pisos.
Inspiradas no arquétipo da casa portuguesa,
as habitações unifamiliares, de uma a quatro divisões, foram projetadas para
terem espaços ajardinados junto à fachada. No frontispício da pasta de
arquivo do projeto de António Couto Martins a ilustração
revela uma expectativa formal de ocupação desses espaços. No entanto, as
fotografias registadas nos anos seguintes foram mostrando outras apropriações.
As sebes de arbustos ornamentais começavam a ser invadidas por pés de milho,
tomates, abóboras, videiras e árvores de fruto.
A aldeia urbana ganhava outros contornos
revelando as origens e a condição socioeconómica de uma classe trabalhadora que
aproveitava os espaços expectantes nas imediações das suas habitações para
semear e plantar o que mais necessitava: comida.
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