OS DEVERES DOS HORTELÃOS DE LISBOA


[Ordem sobre o cano que leva a água para o chafariz do Rossio], 1718, Arquivo Municipal de Lisboa


Os hortelãos de Lisboa tinham várias responsabilidades sobre o terreno das hortas que cultivavam e sobre os sistemas de irrigação.

Na exposição "Hortas de Lisboa. Da Idade Média ao século XXI", encontramos contratos de emprazamento com a indicação de contrapartidas (frequentemente, a abertura de um poço ou a edificação de uma casa) e proibições que visavam, sobretudo, manter a salubridade das terras de cultivo e preservar as águas usadas na rega.

Exemplo desse empenho do Senado de Lisboa foi a postura quatrocentista que proibia as lavadeiras ou outras mulheres de lavarem roupa nas hortas, sob pena de multa e cadeia. A severidade da punição era igualmente aplicada aos próprios hortelões.

Contudo, as responsabilidades dos hortelões não se cingiam apenas à preservação da qualidade da água e não foram exclusivos da época medieval.

No século XVIII, dois documentos atestam, também, deveres sobre a canalização pública da água. 

O aviso ao senado, da Chancelaria Régia de D. João V, datado de 22 de dezembro de 1741 determina "que os donos das hortas do bairro de São José cubram, à sua custa, o cano que lhes pertencer até à entrada do cano público e que ao superintendente das obras seja entregue o dinheiro cobrado no imposto da Variagem, para custear estas e as outras obras em curso nas calçadas da cidade e seu termo".

O documento que reproduzimos, datado de 24 de setembro de 1718, ordena que se notifique o hortelão Domingos Antunes, "que assiste na horta das Laranjeiras para que não consinta que abram o cano por onde vem a água para o chafariz do Rossio".




VISITA ORIENTADA PELOS COMISSÁRIOS


Bilhetes em: https://museu-lisboa.byblueticket.pt/Evento?IdEvento=5397


A QUINTA DO JACINTO


Hortas das casas económicas da Rua N.º 5 do Bairro da Quinta do Jacinto, Alcântara
Roiz, Lda.
Década de 1940
Arquivo Municipal de Lisboa
ROZ000027

O Bairro da Quinta do Jacinto em Alcântara deve o seu nome a Jacintho Gonçalves que, ainda no século XIX, instalou nesse local periférico as cocheiras da sua empresa de transporte de mercadorias e passageiros. 

Na década de 1940, o bairro constituiu uma das primeiras realizações da Câmara Municipal de Lisboa para alojar populações carenciadas, que não reuniam condições materiais para aceder às Casas Económicas ou de Renda Económica.

Este projeto das “Casas para as Classes Pobres”, do arquiteto António Couto Martins (que viria a ser chefe de terceira repartição de Arquitetura da Câmara Municipal de Lisboa na década de 1960), teve várias fases. A primeira, iniciada em 1945, correspondeu à construção de moradias familiares, nas ruas nº3 e nº5 do bairro municipal, adiando-se a construção de prédios de habitação coletiva, tidos como contrários "à "tradição" do País e ao "feitio" dos Portugueses" para as fases seguintes, em que construir-se-iam prédios de habitação de quatro pisos.

Inspiradas no arquétipo da casa portuguesa, as habitações unifamiliares, de uma a quatro divisões, foram projetadas para terem espaços ajardinados junto à fachada. No frontispício da pasta de arquivo do projeto de António Couto Martins a ilustração revela uma expectativa formal de ocupação desses espaços. No entanto, as fotografias registadas nos anos seguintes foram mostrando outras apropriações. As sebes de arbustos ornamentais começavam a ser invadidas por pés de milho, tomates, abóboras, videiras e árvores de fruto. 

A aldeia urbana ganhava outros contornos revelando as origens e a condição socioeconómica de uma classe trabalhadora que aproveitava os espaços expectantes nas imediações das suas habitações para semear e plantar o que mais necessitava: comida. 


 

CONVERSA «HORTICULTORES DE OITOCENTOS» COM ANA DUARTE RODRIGUES

 


Um olhar sobre as hortas na Lisboa de oitocentos: intervenientes, lugares e paisagens. Ensaios botânicos, hortícolas e pedagógicos de Francisco Margiochi e Frederico Daupias.
Com Ana Duarte Rodrigues, coordenadora do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT / FCUL) e os comissários da exposição, Daniela Araújo e Mário Nascimento.

Palestra em direto na página principal de Facebook do Museu de Lisboa: 
https://www.facebook.com/museudelisboaEGEAC