O COMÉRCIO DE ERVAS MEDICINAS EM LISBOA




Pharmacopeia Geral Para o Reino, E Domínios de Portugal. Publicado por ordem da Rainha Fidelíssima D. Maria I, Tomo I Elementos de Pharmacia
1824
Museu da Farmácia - 000091


Em 1704, publicou-se a Pharmacopeia Lusitana, de D. Caetano de Santo António. A obra foi a primeira edição em português e escrita por um boticário nacional.

Contudo, o conhecimento da flora portuguesa e das suas aplicações medicinais, não estava difundido, nem sistematizado.

Várias décadas antes, o alemão Gabriel Grisley publicou Desengano para a Medicina, tentando resgatar as "ervas caídas em desprezo" e corrigir os "enganos". Em 1661, publicou ainda Viridarium Lusitanicum, considerado o único livro de botânica sobre Portugal, onde o autor herborizou mais de duas mil plantas, das quais um terço seriam inéditas e desconhecidas de outros autores.

É certo que o já mencionado desconhecimento justificava o comentário do naturalista francês Merveilleux, em 1738:

«A serra de Sintra [...] produz grande número de plantas, curiosas e invulgares, de que os portugueses não tiram vantagem nem sequer pensam nisso [...]. Para mostrar a crassa ignorância dos portugueses basta dizer que mandam vir da Holanda as bagas de zimbro de que necessitam, quando as suas serras estão cheias delas, particularmente a famosa serra da Estrela de que adiante falarei».

No século XVIII, a par dos boticários e das boticas conventuais, o Rossio era o principal local de venda de ervas medicinais, colhidas nas terras campestres e serranas.

Comprava-se a erva-das-sete-sangrias (para as febres) aos homens que trazem o tojo para os fornos de pão da cidade, por serem os que a conheciam.

Colectores de ervas, ervanários e boticários transacionavam as plantas medicinais, sem conhecimentos em botânica, o que permitia enganos na terapêutica.

É muito provável que esta prática remontasse ao século XVII, conforme refere Gabriel Grisley, no Desengano:

«Da liberdade de poder cada hu᷉ vender as ervas cõ o nome q᷄ quizer, nasce este confuso engano; de q᷄ se segue necessariò o desprezo, q᷄ he o maior obstáculo para hauer curiosos; se quẽ vẽde naõ estiver visto na matéria, facilmẽte fica enganado quẽ cõpra; resultando disso hu᷉ prejuízo euidente em matéria de tãta estima, como a saúde; pello q᷄ se pede, & merece hauer nisto, hu᷉a cautella mui cuidadosa, igual ao menos à que se tem em que se não vendão mantimentos danosos».

Sem comentários:

Enviar um comentário