AS HORTAS NO CHÃO DO MERCADO DO FORNO DO TIJOLO

O local onde hoje se encontra o  Mercado do Forno do Tijolo (entre a Rua Maria da Fonte e a Rua Damasceno Monteiro) já foi chão de hortas cultivadas em redor da estrutura de água composta por um poço, um aqueduto e um tanque.

(foto 2)

Quem, em meados do século subisse pela parte baixa da Calçada do Forno do Tijolo (que corresponde hoje à Rua Maria da Fonte), ultrapassa um edifício setecentista, com seu portal singelo de feição nobre e o seu pequeno jardim (letra A), observando à direita o edifício que viria a pertencer a Henrique José Oliveira Sommer, sem  se aperceber de imediato da existência destas hortas. Seria preciso contornar o cotovelo da extensa calçada para, do troço mais elevado, apreciar os campos hortícolas e o engenho de transporte da água (a ligar as letras E e F).

As hortas desenhadas por Filipe Folque, entre 1856 e 1858 (foto 2) permaneceram até ao levantamento de Silva Pinto, realizado entre 1904 e 1911 (foto 3).

(foto 3)

Neste levantamento, que foi o último registo cartográfico destas hortas, que se viriam a extinguir com a construção do Mercado do Forno do Tijolo, registou-se uma grande estufa no jardim do edificio que fora de Henrique José Sommer (letra G) e que permaneceu na mesma família ao longo da primeira metade do século XX.  Mantiveram-se neste sítio a extensa horta e o aqueduto que ligava o tanque (letra E) e o poço (letra F). A propriedade não era, contudo, parte do prédio da família Sommer; tratava-se de um terreno interior, com entrada pelo mesmo local onde viria a ser a entrada do Mercado.  No topo nordeste do terreno existia uma relativamente pequena habitação e o chão das hortas foi delimitado com contorno a amarelo. 

Vejamos, então, a fotografia de Alberto Carlos Lima com legenda:

 


A - O edifício setecentista (atual nº 27 da Rua Maria da Fonte); B- o prédio dos Sommer (atuais nºs 4 a 16 da Rua Maria da Fonte); C- o prédio de esquina da  Rua Maria da Fonte com a Rua Andrade; D- o prédio da atual Rua Angelina Vidal, nº 60; E - tanque da horta; F - poço; G - estufa na esquina do jardim do prédio da Família Sommer.


Os arrabaldes do Areeiro


Nos anos 60, a linha urbana que partia da Praça de Londres, rasgando terrenos de antigas quintas e ramificando-se em núcleos habitacionais de prédios robustos como os da Avenida de Roma ou do Areeiro, permitia adivinhar uma relação de contrastes entre a urbanidade da cidade moderna e o passado rural sobrevivente.

Em 1963, os referentes desta paisagem foram cenário (e, de certo modo, tema) de um filme português, Os Verdes Anos, realizado por Paulo Rocha, explorando esta dicotomia e reforçando o conflito interior de Júlio, um rapaz que veio do campo para a cidade e se enamora de uma empregada doméstica de um andar do prédio do cruzamento da Avenida de Roma com a Avenida Almirante Reis.

 


Os Verdes Anos, Júlio e Ilda caminhando sobre os elevados terrenos dos limites das antigas quintas do Polão e dos Poiais Vermelhos (parte do atual Parque da Bela Vista).


Numa cena do filme, Júlio e Ilda caminham ao longo de um trilho, na orla das quintas do Polão e dos Poiais Vermelhos (que constituem parte do atual Parque da Bela Vista, sobre a Avenida Almirante Gago Coutinho). Nesse  chão de  quintas ancestrais,  o olhar sobrevoa as traseiras das avenida e espraia-se pelas torres da Praça do Areeiro, longe de adivinhar que, a 12 de janeiro de 1824, o proprietário da Quinta dos Poiais Vermelhos mandara anunciar a sua venda na Gazeta de Lisboa, descrevendo-a com as "três grandes hortas com os seus poços de nora, e tanques, olivais em terras de semeadura, e vinha que dá para cima de 40 pipas (...), parreiras, e árvores de fruta (...)", incluindo as casas nobres, capela e dependências de apoio, livres de foro.


VISITA ORIENTADA PELOS COMISSÁRIOS DA EXPOSIÇÃO


Fotografia de José Avelar/Museu de Lisboa

No próximo dia 17, pelas 15H30, realizar-se uma visita guiada pelos comissários da exposição. Os bilhetes podem ser adquiridos emhttps://blueticket.meo.pt/Event/5846/ 


UMA OFICINA DE GUARDIÕES




No próximo dia 10 de outubro realiza-se no Palácio Pimenta uma oficina prática de guardiões, orientada por Graça Ribeiro, da Associação Colher para Semear - Rede de Variedades Tradicionais.

Nesta oficina serão demonstradas algumas técnicas para a preservação de sementes,  os métodos húmido e seco e a fermentação, assim como a polinização e as condicionantes botânicas, em diferentes espécies hortícolas.

A oficina tem a duração de 90 minutos e destina-se a participantes com mais de 16 anos.

Reservas podem ser feitas para:  reservas@museudelisboa.pt





UMA HORTA VERTICAL NO PALÁCIO PIMENTA



Está a nascer uma horta vertical no Palácio Pimenta. Desenvolvida pela Upfarming,  a instalação "Food Temple"  reflete sobre o potencial da tecnologia na promoção da autossustentabilidade alimentar pela horticultura vertical para consumo das comunidades locais e não só. Para visitar a partir de 2 de outubro.