Os arrabaldes do Areeiro


Nos anos 60, a linha urbana que partia da Praça de Londres, rasgando terrenos de antigas quintas e ramificando-se em núcleos habitacionais de prédios robustos como os da Avenida de Roma ou do Areeiro, permitia adivinhar uma relação de contrastes entre a urbanidade da cidade moderna e o passado rural sobrevivente.

Em 1963, os referentes desta paisagem foram cenário (e, de certo modo, tema) de um filme português, Os Verdes Anos, realizado por Paulo Rocha, explorando esta dicotomia e reforçando o conflito interior de Júlio, um rapaz que veio do campo para a cidade e se enamora de uma empregada doméstica de um andar do prédio do cruzamento da Avenida de Roma com a Avenida Almirante Reis.

 


Os Verdes Anos, Júlio e Ilda caminhando sobre os elevados terrenos dos limites das antigas quintas do Polão e dos Poiais Vermelhos (parte do atual Parque da Bela Vista).


Numa cena do filme, Júlio e Ilda caminham ao longo de um trilho, na orla das quintas do Polão e dos Poiais Vermelhos (que constituem parte do atual Parque da Bela Vista, sobre a Avenida Almirante Gago Coutinho). Nesse  chão de  quintas ancestrais,  o olhar sobrevoa as traseiras das avenida e espraia-se pelas torres da Praça do Areeiro, longe de adivinhar que, a 12 de janeiro de 1824, o proprietário da Quinta dos Poiais Vermelhos mandara anunciar a sua venda na Gazeta de Lisboa, descrevendo-a com as "três grandes hortas com os seus poços de nora, e tanques, olivais em terras de semeadura, e vinha que dá para cima de 40 pipas (...), parreiras, e árvores de fruta (...)", incluindo as casas nobres, capela e dependências de apoio, livres de foro.


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