UMA HORTA E MUITOS MUNDOS


Teresa Pina
Parque Agrícola da AVAAAL


"Eu nasci em São Salvador do Mundo, na ilha de Santiago, Cabo Verde. Casei com 19 anos e vim para Portugal com 20 anos; cheguei a Lisboa no dia 3 de setembro de 1984. O meu marido já estava aqui, era motorista da Carris. Tivemos quatro filhas.
Em Cabo Verde brinquei muito, trabalhei muito, mas tive uma infância muito feliz, a brincar na cachoeira, a ir lavar roupa à ribeira, a fazer roupa de boneca, a brincar no baloiço. Tínhamos a casa na aldeia e semeávamos milho, feijões, cana de açúcar e mangas no sequeiro. Quando havia seca era uma catástrofe. E tínhamos a horta onde o meu pai cultivava mandioca, papaia, banana,  coqueiro, goiaba, batata doce, batata que nós chamamos de inglesa, mas é batata portuguesa, alface, couve, cebola, alho, essas coisas que eram o nosso sustento. 
Eu gosto muito da horta, tenho aqui um bichinho no sangue desde criança, desde pequenina eu ia à horta com o meu pai. Aqui, eu tenho esse feijão congo que eu trouxe de Cabo Verde. Tenho feijão pedra que a gente usa para pôr na cachupa, também tenho feijão bongolon que tem uma vagem comprida parecida com o feijão frade. Cada vez que vou a Cabo Verde eu trago coisas. Já trouxe mandioca, rama de batata doce. Mas de cada vez que eu encontro coisas diferentes eu trago para a horta. Dos Açores trouxe anona e abacate, da Madeira trouxe este ananás que não cresce, nem nada. Da feira da Malveira trago sempre cebola, couve coração que fica ótima na cachupa, couve portuguesa, tomate coração de boi. A minha vizinha da horta, de Angola, trouxe semente de maracujá e estão aí uns pezinhos para nascer e fazer sombra. Esse milho veio do Algarve, foi a minha irmã que me deu. Este aqui é o milho que em Cabo Verde nós chamamos sangue de touro e é muito bom para fazer camoca".


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