UMA HORTA NO COSMOPOLITA PALACETE RIBEIRO DA CUNHA
O palacete Ribeiro da Cunha foi construído pelo capitalista
(financeiro e negociante de tabacos) José Ribeiro da Cunha (1813-1883), na Praça do Príncipe Real, num
terreno de gaveto com a Calçada da Patriarcal Queimada, no local onde
anteriormente se erguiam dois prédios de menor importância.
O requerimento para a construção entrou na Câmara Municipal de
Lisboa, no dia 3 de maio de 1877, acompanhado de um projeto gráfico com alçados
e planta da responsabilidade do arquiteto Henrique Carlos Afonso. Dois dias
depois, o engenheiro Frederico Ressano Garcia dava parecer positivo sobre a sua
construção e aprovação pela edilidade firmou-se a 7 de maio.
A rapidez da aprovação do projeto contrastou com a morosidade da
construção: em 25 de junho do ano seguinte, Ribeiro da Cunha pedia o
alargamento do prazo de construção por mais um ano.
O prédio
tornou-se um dos mais notáveis edifícios residenciais de Lisboa, pelo exotismo
da fachada de inspiração mourisca,
marcando de forma permanente as perspetivas da Praça do Príncipe Real, e foi amplamente reproduzido em
bilhetes postais.
Poucos anos se manteve este imóvel na posse da família Ribeiro da
Cunha. No início do século XX
foi adquirido por Júlio Henrique de Seixas e, em 1911, tornou-se a residência
do seu filho, o capitalista e industrial Ernesto Henrique de Seixas que
promoveu alguns melhoramentos, como a construção de uma estufa no jardim, em
1912, e um pavilhão para carruagens, em 1916.
A casa manteve-se na sua posse por apenas mais 9 anos, tendo sido vendida a Manuel Caroça, em
1920. Pouco tempo terá Ernesto Henrique de Seixas usufruído desta moradia
requintada, confortável e cómoda
ou do seu amplo jardim, prolongado visualmente pela copa das árvores do Jardim
Botânico.
Foi, no entanto, no breve período de Seixas que ficou
documentada a existência e localização
da horta, ao fundo do jardim, do lado da Rua da Alegria, por ocasião do pedido
de construção de um barracão para "arrecadação dos utensílios do
jardim". É provável que a horta fosse anterior à ocupação por Ernesto H. de Seixas,
sendo possível que abastecesse de "frescos" a casa dos Ribeiro da
Cunha, complementando os alimentos que provinham de vários domínios diretos de
foro anual de José Ribeiro da
Cunha: alqueires de trigo e de cevada e
galinhas do Casal do Loureiro, em Benfica, e do Casal Ribeiro, ou alqueires de cevada do Casal das Afonsas, em
Belas.
Projeto de um barracão que Ernesto Henrique de Seixas deseja fazer junto à horta no seu palácio […], 1912, Arquivo Municipal de
Lisboa.
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