DE GÉNOVA A LISBOA
A HORTA DE SÍLVIA


Nasci em Génova, vivi em Londres onde aprendi o que era bio, o que era comer bio, e estou em Lisboa há 30 anosAdoro plantas. Como é evidente. Uma pessoa não se inventa de um dia para o outro. Sempre tive varandas grandes e, portanto, com possibilidade não só de ter flores, mas também plantas aromáticas e hortícolas, pequenas.

Ter uma horta é terapia pura. Como bio, ensino a comer bio, ensino a comer mais vegetais que outras coisas e, de facto, poder aceder a coisas que vêm do meu cultivo é o ideal. Cultivo tudo aquilo que me dá na gana, quanto mais estranho melhor e trago muitas sementes de Itália porque acho que é interessante ver como reagem e o que é que muda aqui. 

Tenho couves, aipo, acelgas, alho francês, cebola, coentros, borragem, rabanetes, salsa, alho, favas, ervilhas e depois há muitas flores, gerânios, que eu gosto de flores e as flores são precisas para chamar abelhas. Aquela lavanda, que é um chamariz incrível, quando está florida é borboletas por tudo o que é lado. Esse manto verde é semente de sésamo preto, nigella, que eu gosto imenso, isto é cidreira, é mesmo maravilhosa, é o que os ingleses chamam lemon balm e falam disso como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo, e é, mas dizem isso porque têm pouco, têm menos do que nós. Isto é calêndula.  É fantástico, maravilhoso. Eu uso imenso ervas aromáticas, uso muito mais do que tenho aqui, porque algumas dão-se até certo ponto. Por exemplo, o manjerico que é a erva da minha terra, não se dá tão bem como isso. À minha vizinha tem-se dado bem, mas eu usei o manjerico genovês e cá não tem hipótese nenhuma.

Para cultivar consulto um almanaque italiano que se chama Barbanera e que se publica há mais de 200 anos. É mesmo uma pequena enciclopédia com todos os meses do ano, com tudo aquilo que se pode fazer, segundo as exposições solares, a lua, essas coisas todas. E também pergunto aos meus amigos produtores que vendem no Príncipe Real.

Sou uma pessoa muito organizada mas, na horta, estou mesmo despenteada porque é o que me dá prazer. É um espaço de liberdade. Semeio conforme aquele pedacinho me inspira e deixo muita terra em pousio porque acho que isso é importante. Tenho-me apercebido que a horta é mesmo algo onde eu ponho o que está cá dentro mais solto. Porque eu era incapaz de ter uma casa assim, incapaz. A minha casa é absolutamente limpa e ordenada. Cá, não. E cada vez que venho cá e olho para isto, penso: Isto é o que eu gosto aqui!.  Percebo  quanto é diferente de outra postura que eu tenho noutro lado. 





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