A HORTA DA QUINTA DO MARQUÊS DE FRONTEIRA EM BENFICA
No último terço do século XVII, D. João de Mascarenhas, conde da Torre e primeiro marquês de Fronteira, fez construir um pavilhão de caça e elaborados jardins na propriedade que a família possuía em Benfica.
Este pavilhão, integrado numa mata e quinta de produção
agrícola, veio a tornar-se a residência principal da família após a destruição
do seu palácio no centro da cidade, ocorrida no dia 1 de novembro de 1775, com
o Terramoto. A alteração funcional do palácio, ampliado com uma nova ala
habitacional, também promoveu algumas alterações nos jardins e na quinta.
Este conjunto, formado por um palácio e seus edifícios
anexos, mata, jardins e quinta, permaneceu afastado da cidade até à urbanização
de Benfica, a partir da segunda metade do século XX. Encontrava-se, porém,
associado a um pequeno núcleo habitacional, na proximidade de outra quinta
famosa, a do comerciante inglês Gerard Devisme e do convento de S. Domingos de
Benfica. A partir dos finais do século XVIII, o pitoresco do conjunto foi
representado em várias gravuras e numa pintura da coleção do Museu de Lisboa,
que aqui reproduzimos (imagens 2 e 3).

A quinta tinha, desde os tempos do primeiro marquês, pomares
e hortas integrados no conjunto dos jardins e da mata, organizados nos três
socalcos construídos para vencer o declive da encosta onde o conjunto se
insere. No terceiro nível, o mais elevado em relação à casa, situava-se a mata
(como se pode observar nas imagens 2 e 3, atrás do palácio); o segundo nível
(abaixo do terceiro), corresponde ao palácio e aos jardins; o primeiro nível,
inferior em relação aos anteriores, correspondia à zona de produção agrícola da
quinta, as hortas e os pomares.
A par deste declive, a quinta era atravessada por uma
ribeira e a água era armazenada em lagos e tanques, simultaneamente
cenográficos e funcionais, otimizados através do sistema hidráulico que
alimentava os jogos de água, construído pelo primeiro marquês, D. João de
Mascarenhas.
As hortas e pomares foram mantidos e aumentados, no século
XVII, pelo segundo marquês e novamente aumentados, no século XIX, pelos oitavos
marqueses de Fronteira, D. Maria Mascarenhas Barreto e Pedro João de Morais
Sarmento, reputado horticultor oitocentista.
No início do século XX, as hortas da Quinta do Marquês de
Fronteira foram cartografadas a sul e a nascente do palácio, em duas plantas do
levantamento cartográfico de Silva Pinto. Na planta nº 6L, pode observar-se a
zona das hortas, afastadas do palácio pelos jardins formais e secundarizadas na
paisagem a partir da casa, ora pelos muros da Galeria dos Reis, ora pelo
desnível do terreno, numa cota inferior (figura 4: destacado a cores).
Palácio e parte das hortas da Quinta do Marquês de Fronteira (adaptado), Júlio António vieira da Silva Pinto e Alberto de Sá Correia, outubro de 1908, Arquivo Municipal de Lisboa.
No século XXI, as zonas da horta foram valorizadas com a plantação de um pomar (2002) e do nivelamento dos terrenos (2003), integrados em campanhas de restauro dos jardins.
Embora o arquiteto Frederico George (segundo marido da 11ª
marquesa e padrasto do 12º marquês, D. Fernando de Mascarenhas) tenha fotografado
as hortas da quinta em meados do século XX, a sua importância decaíra a ponto
de, em 2011, se ter ajardinado parte da zona agrícola, na continuidade dos
jardins formais, com o jardim das laranjeiras e o laranjal.
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