A HORTA DA QUINTA DO MARQUÊS DE FRONTEIRA EM BENFICA

Jardim e fachada do palácio do M. de Fronteira. Augusto Xavier de Lima, 2ª metade do séc. XIX, fotografia, Museu de Lisboa (MC.FOT.3743.31)

No último terço do século XVII, D. João de Mascarenhas, conde da Torre e primeiro marquês de Fronteira, fez construir um pavilhão de caça e elaborados jardins na propriedade que a família possuía em Benfica.

Este pavilhão, integrado numa mata e quinta de produção agrícola, veio a tornar-se a residência principal da família após a destruição do seu palácio no centro da cidade, ocorrida no dia 1 de novembro de 1775, com o Terramoto. A alteração funcional do palácio, ampliado com uma nova ala habitacional, também promoveu algumas alterações nos jardins e na quinta.

Este conjunto, formado por um palácio e seus edifícios anexos, mata, jardins e quinta, permaneceu afastado da cidade até à urbanização de Benfica, a partir da segunda metade do século XX. Encontrava-se, porém, associado a um pequeno núcleo habitacional, na proximidade de outra quinta famosa, a do comerciante inglês Gerard Devisme e do convento de S. Domingos de Benfica. A partir dos finais do século XVIII, o pitoresco do conjunto foi representado em várias gravuras e numa pintura da coleção do Museu de Lisboa, que aqui reproduzimos (imagens 2 e 3).



A view of Quinta de Gerard de Visme Esq. at Bemfique near Lisbon. John Wells, 1794, gravura a aquatinta, Museu de Lisboa (MC.GRA.1351)

 

Vista de S. Domingos de Benfica. Maria Guilhermina Silva Reis, séc. XIX, óleo sobre tela, Museu de Lisboa (ML.PIN.1612)

 


A quinta tinha, desde os tempos do primeiro marquês, pomares e hortas integrados no conjunto dos jardins e da mata, organizados nos três socalcos construídos para vencer o declive da encosta onde o conjunto se insere. No terceiro nível, o mais elevado em relação à casa, situava-se a mata (como se pode observar nas imagens 2 e 3, atrás do palácio); o segundo nível (abaixo do terceiro), corresponde ao palácio e aos jardins; o primeiro nível, inferior em relação aos anteriores, correspondia à zona de produção agrícola da quinta, as hortas e os pomares.

A par deste declive, a quinta era atravessada por uma ribeira e a água era armazenada em lagos e tanques, simultaneamente cenográficos e funcionais, otimizados através do sistema hidráulico que alimentava os jogos de água, construído pelo primeiro marquês, D. João de Mascarenhas.

As hortas e pomares foram mantidos e aumentados, no século XVII, pelo segundo marquês e novamente aumentados, no século XIX, pelos oitavos marqueses de Fronteira, D. Maria Mascarenhas Barreto e Pedro João de Morais Sarmento, reputado horticultor oitocentista.

No início do século XX, as hortas da Quinta do Marquês de Fronteira foram cartografadas a sul e a nascente do palácio, em duas plantas do levantamento cartográfico de Silva Pinto. Na planta nº 6L, pode observar-se a zona das hortas, afastadas do palácio pelos jardins formais e secundarizadas na paisagem a partir da casa, ora pelos muros da Galeria dos Reis, ora pelo desnível do terreno, numa cota inferior (figura 4: destacado a cores).

 

Palácio e parte das hortas da Quinta do Marquês de Fronteira (adaptado), Júlio António vieira da Silva Pinto e Alberto de Sá Correia, outubro de 1908, Arquivo Municipal de Lisboa.

 

No século XXI, as zonas da horta foram valorizadas com a plantação de um pomar (2002) e do nivelamento dos terrenos (2003), integrados em campanhas de restauro dos jardins.

Embora o arquiteto Frederico George (segundo marido da 11ª marquesa e padrasto do 12º marquês, D. Fernando de Mascarenhas) tenha fotografado as hortas da quinta em meados do século XX, a sua importância decaíra a ponto de, em 2011, se ter ajardinado parte da zona agrícola, na continuidade dos jardins formais, com o jardim das laranjeiras e o laranjal.


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