TACUINUM SANITATIS
Fólio 18V - Melões
No século XI, o físico cristão Ibn Buṭlān, de Bagdad, escreveu um tratado de saúde, higiene, dietética e bem estar intitulado Taqwīm Al-Ṣiḥḥa. O tratado, baseado na teoria humoral de Hipócrates e Galeno, destacava evocava o uso terapêutico das plantas na prevenção e no tratamento da doença, atribuindo a cada espécie propriedades específicas e efeitos fisiológicos particulares capazes de restabelecer o equilíbrio humoral.
No século XIII começaram a circular na Europa versões latinas desta obra e, algumas delas, foram paulatinamente obliterando parte dos textos originais a favor de ilustrações, até pouco restar dos conteúdos originais e a obra ser dominada por estampas com a respetiva legenda. São particularmente ricas as edições encomendadas pela corte Visconti de Pavia na Lombardia, no século XIV.
Tacuinum Sanitatis, literalmente Tábuas da Saúde, constitui uma exceção no universo, escasso e disperso, da iconografia hortícola medieval e uma notável fonte de informação sobre as plantas que então se cultivavam e consumiam. Hortas, campos agrícolas, talhões, treliças, vedações e vasos, entre muitos outros elementos, compõem os cenários que informam, também, sobre a estrutura social medieva. Enquanto os camponeses são retratados com os hortícolas que habitualmente constituíam a base da sua alimentação, os cortesãos, a clientela do livro, aparecem junto a variedades que eram raras, dispendiosas e de introdução recente na Europa, como a beringela.
Embora as ilustrações das colheitas sejam idealizadas e a produtividade e dimensão das plantas exacerbadas, Tacuinum Sanitatis informa sobre práticas e técnicas agrícolas, ainda hoje utilizadas.
A visão da horta como espaço de cura, de relaxamento e de vitalidade e a prática hortícola como fonte de bem-estar, físico e mental, revelam as propriedades higiénicas da natureza e anuncia a horticultura terapêutica que hoje se promove, mostrando a atualidade de uma obra com séculos.
Sem comentários:
Enviar um comentário